O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa ao lado do primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, no Fórum Econômico Japão-Brasil, em Tóquio (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 26 de março de 2025 às 07h19.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do encerramento do Fórum Econômico Japão-Brasil, nesta quarta-feira, 26, e em seu discurso reforçou a necessidade de reacender o comércio bilateral entre os dois países. Para uma plateia de políticos e empresários, incluindo o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, Lula vendeu o Brasil como um porto seguro para investidores, cuja economia, segundo o presidente, vem superando as expectativas de crescimento (veja, no fim da matéria, o discurso na íntegra).
Depois de iniciar sua fala se dizendo triste pela derrota da seleção brasileira para a Argentina por 4 a 1, Lula elencou motivos de alegria em sua visita ao Japão, anunciando a assinatura de 10 acordos de cooperação nas mais diversas áreas, além de "80 instrumentos entre empresas, bancos, universidades e outras instituições".
"Resta, no entanto, um importante desafio: nosso comércio bilateral diminuiu nos últimos anos. Caiu de US$ 17 bilhões, em 2011, para US$ 11 bilhões em 2024. Algo não andou bem na nossa relação e é preciso aprimorá-la. Este fórum empresarial é a oportunidade para reverter esse declínio. Em um mundo cada vez mais complexo, é fundamental que parceiros históricos se unam para enfrentar as incertezas e instabilidades da economia global", disse Lula.
O presidente também pontuou a importância de o Japão fechar negócios com a América do Sul:
"Precisamos avançar com a assinatura de um acordo de parceria econômica entre Japão e Mercosul. Nossos países têm mais a ganhar com integração do que com práticas protecionistas", disse Lula, numa referência clara à guerra tarifária implementada pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
O presidente brasileiro destacou, em seu discurso, a aprovação da Reforma Tributária como uma das bandeiras para atrair investimentos estrangeiros, "simplificando processos, reduzindo custos e oferecendo maior previsibilidade e eficiência aos negócios". Numa espécie de recado ao Congresso brasileiro, citou a "correção de injustiças no Imposto de Renda, para beneficiar bilhões de brasileiros, aumentando o consumo das famílias e fazendo a roda da economia girar".
Lula também lembrou da importância de programas de governo para garantir inclusão social, além de "a mais importante política de crédito da história do país":
"Nunca antes houve tanto crédito disponibilizado para as pessoas mais pobres, para os trabalhadores, e também para os grandes empresários e para o agronegócio", afirmou, citando a atuação do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
"Eu quero convidar os japoneses a investir no Brasil, porque é um porto seguro. Como foi para os japoneses em 1908, nós queremos ser em 2025, atraindo parcerias, joint-ventures e investimentos em nosso país. É preciso garantir previsibilidade aos investidores. Ninguém pode ser pego de surpresa com mudança de lei todo santo dia", disse o presidente, mencionando novamente a Reforma Tributária.
Lula afirmou que o Brasil está consolidando com o Japão uma nova estratégia de relacionamento, baseada em "compartilhar alianças entre as empresas japonesas e brasileiras, para que a gente possa crescer juntos".
O presidente brasileiro deu o exemplo da Toyota, que apostou no Brasil para instalar sua primeira fábrica fora do Japão, na década de 1950.
"Na semana passada, visitei uma das fábricas da Toyota no Brasil, ocasião em que a empresa anunciou investimentos de mais de US$ 2 bilhões até 2030. Honda, Nissan e Mitsubishi também ampliarão suas presenças no mercado brasileiro. Isso vai alavancar a produção de veículos elétricos e híbridos".
Lula lembrou, ainda, que a ANA (All Nippon Airways), maior companhia aérea japonesa, também anunciou - num acordo assinado nesta quarta-feira - a compra de 20 aeronaves da Embraer.
"Manter a isenção recíproca de vistos de negócios e de turismo entre Brasil e Japão foi um passo essencial na direção dessa parceria. O Brasil continuará desafiando as projeções do Banco Mundial. Nos últimos 2 anos, nosso PIB superou as expectativas e cresceu acima de 3%. Em 2025, outra vez, nós vamos surpreender o mundo, e queremos surpreender em parceria com o Japão".
Por fim, Lula elogiou o plano estratégico de energia do Japão, que prevê elevar o percentual de mistura de etanol na gasolina para 10%, até 2030, e 20% a partir de 2040.
Alheio à polêmica de seu governo com a pressão para exploração de petróleo na Foz do Amazonas, Lula até ensaiou um discurso ambientalista, convidando o primeiro-ministro japonês a participar ativamente dos debates da COP30, em novembro:
"A descarbonização não é uma escolha, é uma necessidade e grande oportunidade. E o envolvimento do setor privado nessa meta é fundamental. O Brasil sempre será um aliado para reduzir a dependência global de combustíveis fósseis".
Presidente Lula participa do encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Japão https://t.co/W6ik7IQV9a
— Lula (@LulaOficial) March 26, 2025